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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Geraldo Carneiro

a coisa bela


toda beleza é sempre uma alegria.
eu sei, não foi bem isso que o John Keats
                                                             /disse,
mas cada língua escolhe as afeições
e imperfeições que lhe compete ser,
o ser da língua sendo o seu amar
o mar com cada qual sargaço seu
o espaço que se sonha na amplidão
do que se quer mais vasto.
um sonho vai fundando um outro sonho
até talvez um horizonte, ou não.
a palavra inaugura uma alegria
voa     auspicia     pássara
o que passou, o que ainda vai passar
o que se funda agora
e na hora da nossa vida-morte:
o resto só será palavra-além. 



nevermore

fizemos piqueniques em Pasárgada
tratamos romances rocambolescos
nas praias mais improváveis.
cifras grifos dragões d'além mar
cuspiam fogo em nossa eros-dicção
você era mais luz: eu era mais treva
fomos quase felizes para sempre
antes que você escolhesse o dia
a hora o grand-finale do espetáculo
(ou não escolhesse: a morte é sempre
um pas-de-deux com o deus do acaso 
 
 

predestino

sou um dos príncipes do despudor
por procurar até no desespero
ser fiel aos deuses nos quais acredito,
por não ter medo dos nomes malditos,
dos mitos, das palavras furta-flor.
vivo surfando em busca do presente
numa voracidade nordestina
que descobri por predestinação.
não sei qual é a nação dos meus zumbis.
não sei por que palmeiras e palmares
cheguei aqui atravessando mares
amares sempre nunca navegados.
sou a ponte entre a véspera e o porvir
as armas e barões assinalados
os pensamentos idos e vividos
e as praias improváveis que virão. 



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